sábado, 10 de março de 2012

A morte da tartaruga

 
                      A morte da tartaruga           

O menininho foi ao quintal e voltou chorando: a tartaruga tinha morrido. A mãe foi a quintal com ele, mexeu na tartaruga com um pau (tinha nojo daquele bicho) e constatou que a tartaruga tinha morrido mesmo. Diante da confirmação da mãe, o garoto pôs-se a chorara com mais força. A mãe a princípio ficou penalizada, mas logo começou a ficar aborrecida com o choro do menino.
-Cuidado, senão você acorda seu pai.
Mas o menino não se conformava. Pegou a tartaruga no colo e pôs-se  cariciar-lhe o casco duro. A mãe disse que comprava outra, mas ele respondeu que não queria, queria aquela, viva! A mãe lhe prometeu um carrinho, um velocípede, lhe prometeu uma surra, mas o pobre menino parecia estar mesmo profundamente abalado com a morte do seu animalzinho de estimação.
Afinal com tanto choro, o pai acordou la dentro, e veio estremunhado, ver de que se tratava. O menino mostrou-lhe a tartaruga morta. A mãe disse:
-Esta aí assim    meia hora,chorando que nem maluco. Não sei mais o que faço. Já lhe prometi tudo, mas ele continua berrando desse jeito.
O pai examinou a situação e propôs:
-Olha, Henriquinho.Se a tartarugo está morta não adianta mesmo você chorar. Deixa  ela aí e vem cá com o pai.
O garoto depôs cuidadosamente a tartaruga junto do tanque  e seguiu o pai, pela mão. O pai sentou-se na poltrona, botou o garoto no colo e disse:
-Eu sei que você sente muito a morte dela. Mas nós vamos fazer pra ela um grande funeral. -Empregou de propósito a palavra difícil. O menininho parou imediatamente de chorar.
-Que é funeral?
O pai lhe explicou que era um enterro.                                                        
-Olha, nós vamos à rua, compramos uma caixa bem bonita, bastante balas,bombons,doces e voltamos para casa .Depois botamos a tartaruga na caixa em cima da mesa da cozinha e rodeamos de velinhas de aniversário. Aí convidamos os meninos da visinhança,acendemos as velinhas,cantamos o “Happy-Birth-Day-To-You” pra tartaruguinha morta e você  assopra as velas. Depois pegamos a caixa, abrimos um buraco no fundo do quintal, enterramos a tartaruguinha e botamos uma pedra  em Cima com o nome dela e o dia em que ela morreu. Isso é que é funeral! Vamos fazer isso?
O garotinho estava com outra cara.
Vamos, papai, vamos! A tartaruginha vai ficar contente lá no céu, não vai?   Olha, eu vou apanhar ela.
Saiu correndo. Enquanto  pai se vestia,ouviu um grito no quintal.
-Papai, papai,vem cá,ela está viva!
O pai correu pro quintal e constatou que era verdade. A tartaruga estava andando de novo, normalmente.
-Que bom,hein? -disse. -Ela está viva!! Não vamos ter que fazer o funeral!!
-Vamos sim,papai -disse o menino ansioso, pegando uma pedra bem grande. -Eu mato ela.
(Millôr Fernades)


Um comentário:

  1. kkkk...eu trabalhei com minhas alunas essa "historinha devertida", rimos e debatemos sobre como nós adultos temos o poder de fazer a diferença na vida de uma criança!!!
    Espero que assim como eu vc goste!!

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